O diabo mora nos detalhes. Curioso como a vida é feita de pormenores!
O "croissant" torrado com manteiga e a meia de leite que bebia no café "Brito" com 16 anos, o som da minha avó a descascar favas e batatas na minha infância, enquanto a ajudava a fazer a minha sobremesa favorita. O cheiro único da casa da minha tia Mila e do meu tio Manel, onde passava alguns dias das férias de Verão com os meus primos! As ervilhas que eu fingia gostar e que sorrateiramente guardava no bolso para depois mandar fora! As bombocas de morango com que nos deliciávamos nas tardes passadas a andar de bicicleta na rua. As vezes que nos fechávamos dentro da tenda e fingíamos estar a dormir, só para não nos expulsarem da festa, porque queríamos ficar lá até segunda-feira. (sim, porque não há festa como aquela).
A vida é feita de memórias e as memórias, feitas de pormenores que fazem toda a diferença. Enquanto os vivemos não pensamos muito neles, mas eles ficam eternizados em nós.
A casa da minha tia Mila e do tio Manel, o lar, onde o meu pai cresceu, por ter ficado órfão, não podia ficar vazia, ou ser alugada a estranhos. Não podia. Mesmo que com as obras mude o cheiro, porque vai mudar, mesmo que os meus tios já tenham partido há uns meses e não voltem. As memórias estarão sempre escritas naquelas paredes, no vau de escada, na varanda de onde se vê o rio, aquele rio tão nosso com Belém ao fundo. Fui tão feliz aqui!!! Tão feliz!
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